Laranjeiras fixam 4,28 kg de carbono por ano, revela pesquisa

Os números vêm de uma pesquisa da Embrapa Territorial e do Fundecitrus, apoiada pelo Fundo de Inovação para Agricultores da empresa innocent drinks, do Reino Unido

04/07/2025 às 11:46 atualizado por Redação - SBA
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Uma laranjeira fixa 4,28 quilos de Carbono por ano em sua biomassa, nos pomares comerciais do cinturão citrícola brasileiro, que compreende o estado de São Paulo e o Sudoeste/Triângulo Mineiro. Num momento em que as mudanças climáticas tornam urgente a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), cada hectare de produção de frutas cítricas nessa região remove 2 toneladas de Carbono da atmosfera por ano, em média. Os números vêm de uma pesquisa da Embrapa Territorial e do Fundecitrus, apoiada pelo Fundo de Inovação para Agricultores da empresa innocent drinks, do Reino Unido. Os resultados e metodologia detalhadas foram publicados na revista científica Agrosystems, Geosciences & Environment. 

“Ao retirar o gás carbônico (CO2) da atmosfera por meio da fotossíntese, as laranjeiras fixam o Carbono nas folhas, galhos, tronco e raízes, e também no solo, anualmente, com a decomposição de folhas, raízes finas e restos das podas. Comparados a culturas como soja, milho e pastagens, os pomares de laranja têm uma capacidade muito maior de armazenar Carbono, funcionando como um grande reservatório, o que contribui significativamente para a mitigação da mudança do clima”, explica o pesquisador Lauro Rodrigues Nogueira Júnior. Estima-se que, em média, cada árvore de laranja pode neutralizar 10 dias de emissões de GEE de um brasileiro. As 162 milhões de árvores com mais de três anos, cultivadas em 337 mil hectares nos estados de São Paulo e Minas Gerais, armazenam juntas cerca de 8,4 milhões de toneladas de carbono. 

As estimativas foram obtidas por meio de um amplo trabalho que envolveu medições em campo, análises em laboratório, imagens de satélite e modelagem de dados. Os cientistas fizeram a medição direta de 80 laranjeiras e a coleta de dados biométricos em mais de 1.300 árvores cultivadas em diferentes regiões do cinturão citrícola. A partir dessas informações, os pesquisadores desenvolveram equações alométricas — modelos matemáticos baseados em variáveis como altura, diâmetro do tronco e dos galhos primários e secundários — que permitem estimar a biomassa das árvores e, consequentemente, o estoque de carbono nelas contido.

Segundo o artigo, cada laranjeira armazena, em média, 52 quilos de carbono na biomassa viva — considerando folhas, galhos, tronco e raízes. Isso equivale a 25 toneladas por hectare, valor superior ao atualmente utilizado pelos inventários oficiais de gases de efeito estufa no Brasil. Estes adotam uma estimativa genérica de 21 toneladas de carbono por hectare para culturas perenes. “Os resultados apresentados pela pesquisa podem servir como uma linha de base do setor citrícola, melhorar as estimativas de emissões do setor, bem como apoiar mensurações de estoques de carbono em pomares de laranjas de produtores e empresas que queiram acessar o mercado de Carbono”, avalia Lauro.

Além da publicação científica, dados primários coletados no estudo estão reunidos em um painel interativo desenvolvido pela Embrapa Territorial, disponível em online. A ferramenta reúne os modelos alométricos gerados e permite consultas por variedade e classe de idade das árvores.
 
Estoque total de carbono

A fixação anual de carbono pelas árvores é apenas um dos resultados dessa pesquisa. O trabalho da Embrapa Territorial e do Fundecitrus também estimou o estoque total de carbono no cinturão citrícola, somando a biomassa das laranjeiras, o carbono orgânico do solo e a vegetação nativa preservada nas propriedades. São 36 milhões de toneladas de carbono estocadas — o equivalente a 133 milhões de toneladas de CO₂ que deixaram de ser lançadas na atmosfera (veja detalhes).

 Biodiversidade preservada

As propriedades produtoras de laranja também mostraram ser ambientes favoráveis à conservação da fauna. Um levantamento realizado no âmbito da mesma pesquisa identificou mais de 300 espécies de animais silvestres convivendo com a produção em cinco propriedades analisadas — a maioria aves e mamíferos. 

Segundo levantamento do Fundecitrus, as propriedades citrícolas do cinturão contam com quase 160 mil hectares de áreas de vegetação nativa.

Fonte: Embrapa