Brasil registra safra histórica de milho em meio a desafios

Final da etapa milho do Rally da Safra aponta para segunda safra de 123,3 milhões de toneladas

24/06/2025 às 16:46 atualizado por Redação - SBA
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As impressões iniciais que indicavam uma safra inédita de milho no Brasil foram confirmadas em campo pelas equipes do Rally da Safra na etapa de avaliação da segunda safra. Com base nos resultados da expedição, a Agroconsult, organizadora do Rally, estima uma produção de 123,3 milhões de toneladas (mmt) de milho segunda safra - aumento de 10,4 mmt sobre a estimativa anterior (de 21 de maio) e de 20,2 mmt sobre a safra 23/24. 

A produtividade média nacional atingiu o patamar recorde de 113,8 sacas por hectare - a maior já alcançada no país. Na largada da etapa do milho, a estimativa era de 105 sacas por hectare, mas um conjunto de fatores contribuiu para o ajuste positivo. 

O clima foi fundamental para o resultado. Apesar do atraso no início do plantio, as chuvas de abril, maio e até mesmo de junho garantiram que não faltasse umidade no campo para o enchimento dos grãos. Até o momento, a não ocorrência de geadas amplas tem sido um fator positivo. Segundo André Debastiani, coordenador do Rally da Safra, isso permitiu a manutenção de altos patamares de produtividade tanto nas lavouras mais precoces, como nas médias e nas plantadas tardiamente. “De maneira geral, o potencial que vimos nas lavouras precoces não difere muito dos anos anteriores, porém as lavouras tardias nessa safra vão entregar uma produtividade nunca vista. E isso só ocorreu por conta do prolongamento das chuvas”, explica Debastiani.

As condições das lavouras também ratificam os números. Mesmo com pequena redução na população de plantas em algumas regiões — especialmente nas regiões Oeste e Sudeste do Mato Grosso —, houve significativo aumento no número de espigas e de grãos por espiga. E apesar da alta incidência de lagartas, que trouxe grande preocupação, o controle fitossanitário foi eficiente, resultando em baixo impacto sobre a produção.

Nesse cenário, todos os principais estados registraram recordes de produtividade. Mato Grosso deve atingir volume histórico: 131,9 sacas por hectare, representando aumento de 11,6% em relação à safra passada. Goiás também terá recorde, com 126,1 sacas por hectare, crescimento de 5,6%. O mesmo acontece com o Mato Grosso do Sul, com 98,1 sacas por hectare, avanço de expressivos 35,1%, e Paraná, com 106,5 sacas por hectare, aumento de 16,5%.

O crescimento da produção é sustentado ainda por uma expansão de 5,7% na área plantada da segunda safra em relação à temporada anterior, totalizando 18,1 milhões de hectares (acréscimo de 982 mil hectares). O uso da ferramenta Cropdata da Agroconsult, que permite avaliação detalhada de cada talhão via satélite, foi essencial para a nova revisão da área cultivada, que trouxe um resultado de 1,2 milhão de hectares acima do número oficial divulgado pela Conab.

Com a safra de milho verão somando mais 27 mmt, a produção total deve alcançar 150,3 mmt – chegando a 21,3 mmt a mais que na safra passada e impondo desafios à toda cadeia do cereal. “O país deverá enfrentar questões logísticas, especialmente relacionadas à armazenagem. Há previsão de que parte significativa do milho fique armazenada a céu aberto, como já ocorreu em anos anteriores, pressionando a infraestrutura de transporte e exportação”, afirma Debastiani.

Do lado do consumo doméstico, há motivos para otimismo. O mercado de rações apresenta sinais de retomada, especialmente após o controle e superação da gripe aviária. Além disso, o mercado de etanol de milho segue aquecido, impulsionando a demanda pelo cereal. Com esses fatores, o consumo interno deve atingir 97 mmt.
Em relação às exportações, embora a previsão inicial para o segundo semestre aponte para um volume de 44,5 mmt, o ritmo dos embarques estará sujeito ao comportamento dos principais mercados compradores e à conjuntura internacional. O resultado das safras americana e argentina, além de eventos geopolíticos como o desenrolar da guerra entre Israel e Irã - o Irã é um dos maiores compradores do milho brasileiro - podem impactar consideravelmente a demanda externa.

Avaliação de campo

Seis equipes percorreram as lavouras de milho segunda safra entre maio e junho, ajustando a estimativa de produtividade nos estados do Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. Patrocinada pelo Banco Santander, OCP Brasil, BASF, Credenz® e SoyTech™ (marcas de sementes da BASF), xarvio® (plataforma digital oficial do Rally), BIOTROP, JDT Seguros, TIM Brasil e Viasoft, a 22ª edição do Rally da Safra avaliou o Médio-Norte, Oeste e Sudeste do Mato Grosso, a região de Vilhena, em Rondônia, Norte e Sul do Mato Grosso do Sul, Sudoeste de Goiás e Norte e Oeste do Paraná.

Após um total de 124 dias de trabalho, o Rally percorreu quase 104 mil quilômetros, com 22 equipes em campo, avaliando as condições de mais de 2,2 mil lavouras de soja e milho durante as fases de desenvolvimento e de colheita nos estados de MT, RO, GO, MG, MS, PR, SC, SP, RS, PA, MA, PI, TO e BA, além do DF.  Foram 1,6 mil lavouras de soja e 608 de milho avaliadas, quatro eventos técnicos regionais e quatro eventos especiais e 349 produtores e técnicos visitados. As áreas avaliadas pelo Rally da Safra 2025 respondem por 97% da área de produção de soja e 72% da área de milho. 

Etapa inédita: algodão

O Rally da Safra realizará, entre julho e agosto, um levantamento inédito nos dois principais estados produtores de algodão no Brasil (MT e BA). Diante das lacunas na coleta e análise de dados da produção algodoeira, especialmente nos aspectos de área plantada, produtividade e conjuntura de mercado, técnicos da expedição farão visitas técnicas a alguns dos maiores grupos agrícolas do país.

“A etapa algodão será um marco na geração de informação qualificada para o setor, ajudando a responder questões estratégicas como a real produtividade do algodão brasileiro e como ela tem evoluído, a rastreabilidade e as certificações, as práticas de beneficiamento e os desafios logísticos e comerciais enfrentados pelo setor”, esclarece o coordenador da expedição.

Os trabalhos em campo incluem encontros com produtores rurais referência na produção de algodão, visitas a unidades de beneficiamento, analisando a qualidade e eficiência do processo pós-colheita e levantamento de informações técnicas e de mercado, além de eventos técnicos regionais em Cuiabá e Luís Eduardo Magalhães. Os resultados da etapa serão divulgados em setembro.